Você já tomou um vinho biodinâmico? Ou já viu alguém, em um restaurante ou bar, pedir um desses rótulos? Mas o que realmente significa um vinho biodinâmico? Afinal, nada mais do que o vinho poderia encarnar melhor a ideia de vida em todas as suas menores nuances. No entanto, você pode se perguntar se o conceito de biodinâmica tem raízes profundas e consolidadas ou, se apenas aparece como o mais novo marketing do vinho?

Na verdade, a biodinâmica é uma das práticas agrícolas mais antigas, mesmo antes da agricultura orgânica. Segundo a Morgana Germanetto, Mestre em Cultura do Vinho Italiano na Universidade de Ciências Gastronômicas de Pollenzo,  após a Primeira Guerra Mundial, na Alemanha, os agricultores notaram uma deterioração das condições do solo, da saúde dos campos, das colheitas e da pecuária, devido ao grande uso de materiais sintéticos e à mudança para um modo de agricultura mais industrial.

Como resultado, uma solução era urgentemente necessária: o filósofo e cientista austríaco Rudolf Steiner (Donji Kraljevec, 1861 – Dornach, 1925) foi então convidado a liderar uma série de oito palestras, durante as quais abriu o caminho para a biodinâmica.

A biodinâmica refere-se a uma maneira homeopática de agricultura; o mais antigo movimento agrícola antiquímico, onde um dos princípios básicos é conceber a fazenda como um organismo, uma entidade autônoma. A ênfase é colocada na integração de culturas e animais, reciclagem de nutrientes, preservação do solo e saúde e bem-estar de todos os componentes da fazenda; o agricultor também faz parte do todo.

Agricultura biodinâmica X orgânica

Em muitos aspectos, a agricultura biodinâmica e orgânica são muito semelhantes. No entanto, a biodinâmica dá uma olhada no futuro e vai além do orgânico, insistindo em uma abordagem proativa, mais preventiva do que no tratamento. Acima de tudo, a biodinâmica se esforça para trazer de volta à vida solos empobrecidos, plantas sem alma, agricultores que perderam a motivação e o amor por sua terra; vinhos DOP que correm o risco de serem esquecidos ou negligenciados.

Biodinâmica e Terroir

No blog da Universidade de Ciências Gastronômicas de Pollenzo, Morgana ainda lembra outro grande contribuinte para a filosofia e abordagem biodinâmica: o viticultor francês Nicolas Joly (Loire, 1945). Em sua obra Le vin, la vigne et la biodynamie (Edições Ellébore-Sang de la terre, Paris 2007), ele aponta como a biodinâmica está se tornando quase uma necessidade no mundo do vinho de hoje. Essa mudança de direção, segundo ele, não é motivada por uma certa escolha filosófica ou por uma tendência ecológica; pelo contrário, está a acontecer porque permite a produção de vinhos mais originais, mais representativos de um determinado terroir, o mesmo onde as vinhas cresceram. Desta forma, é possível assinalar o distanciamento de um tipo específico de vinificação, altamente prejudicial para as várias DOP.

O uso de leveduras comerciais e de outros “tratamentos de cirurgia estética” fez com que os vinhos tivessem um sabor bom, mas também anônimo, fácil de replicar em qualquer lugar do mundo, definitivamente uma ofensa ao caráter real de uma Denominação. Pelo contrário, a agricultura biológica, e sobretudo biodinâmica, tenta dar voz aos vinhos, aos terroirs.

Da mesma forma, a adoção de uma abordagem mais sustentável da viticultura, uma forma de cultivo mais próxima da terra, de toda a comunidade e mais respeitosa com o sentido do lugar, poderia prestar a justa homenagem a uma Denominação de vinho e ajudar a criar mais autênticos e vinhos representativos, que falam a língua do seu território de origem.

A consciência das pessoas é, portanto, uma palavra-chave: no caso de uma denominação vitivinícola, os agricultores têm que reconhecer que suas ações e pensamentos fazem parte de um esquema maior e que são sustentados por razões, consequências e impactos. Construir e aumentar a conscientização de todos aqueles que são parte ativa desta Denominação representaria um grande passo para colocar a coroa de volta na cabeça do vinho.

Gostou de saber mais sobre os vinhos biodinâmicos? Conta pra gente se você já experimentou algum deles!