O uso do Carvalho na produção de vinhos
O vinho é mais do que apenas uma bebida e adjetivos não faltam para qualificar essa delícia, que mexe com a cabeça de seus amantes. Você já ouviu ou leu por aí que determinado vinho é mais ou menos “amadeirado”, por exemplo? Sabe o que isso quer dizer?
Esse atributo dos vinhos está relacionado ao sabor e ao aroma que eles adquirem nos barris onde são fermentados, maturados e/ou armazenados. Afinal, como você deve saber, após a fermentação, processo que transforma os açúcares das uvas em álcool, o vinho descansa em barris por um período que pode variar de meses a anos.
Cada vinho tem seu tempo próprio para maturação e os barris de carvalho são tradicionalmente utilizados pelos produtores para esse processo, pois é uma madeira capaz de conferir características especiais ao resultado final da bebida. À luz dos mais recentes conhecimentos adquiridos em enologia, tais como fenômenos de oxirredução, consumo de oxigênio e dissolução de componentes voláteis e não voláteis, o carvalho pode ser empregado visando favorecer a expressão e palatabilidade de um vinho de diversas formas.
Veja o que a Ivini separou para você entender o que de fato significa um vinho considerado amadeirado e o que os barris de carvalho têm a ver com isso:
Coextração: o significado do termo remete à necessidade de um cofator, vindo do carvalho (ácido gálico), que auxilie na extração de substâncias corantes (antocianinos), taninos e sabores. O grau de tostagem da madeira é muito importante, porque pode influir negativamente nessa extração e o resultado final pode ser desastroso com vinhos de baixa intensidade de cor e com aromas que vão de serragem (tosta insuficiente) até notas aromáticas que remetem a molho inglês (se a tosta é excessiva em relação ao vinho que o enólogo tem em mãos).
Poder antioxidante: novamente implica a presença do ácido gálico, que tem grande poder antioxidante, que age permitindo uma melhor integração estrutural, textura agradável e longevidade aos vinhos. A uva Pinot Noir é particularmente sensível à ausência desse cofator.
Composição estrutural (tânica e aromática): certas variedades de uvas viníferas apresentam maior ou menor facilidade em expressar seu caráter frutado junto à trama estrutural do vinho (um fator pode se sobrepor a outro gerando desarmonia). Algumas, como Grenache e Merlot, têm frutado bem delineado, mas faltando integração com os taninos. Outras, como Mourvèdre e Cabernet Franc, possuem essa trama adequada, porém levam a uma menor expressão de fruta. O uso inadequado da madeira pode concorrer para a extração de compostos químicos que “varrem” a fruta (caso das whisky-lactonas).
Controle de oxirredução: também reconhecido pelos apreciadores de vinho, sobretudo a micro-oxigenação, que não se limita às tentativas de simplificação das quais esta técnica foi vitimada. Cada vez mais, os vinhos são estudados no que tange a suas necessidades de oxigênio e ulteriores influências em suas características organolépticas.
Por fim, deve-se dar o devido valor para o processo de secagem da madeira de carvalho. A secagem deve ser “natural” e não em estufas, no mínimo por três anos, sob risco de influenciar diretamente todos os fatores aqui mencionados. A madeira oriunda de estufas aporta taninos mais adstringentes, elementos de amargor (cumarinas) e são mais pobres em substâncias odorantes, caso das lactonas (coco e baunilha), do eugenol (aromas de especiarias) e da vanilina (baunilha).
E você? Já provou bons vinhos maturados em barris de carvalho? Deixe o seu comentário!
Comentários
14 Comentários