Todo apreciador de vinhos já se sentiu, pelo menos uma vez na vida, perdido na seção de vinhos premiados de determinada enoteca ou adega. O que todos aqueles selos, letras, números e denominações significam? Esses vinhos são realmente melhores do que os outros? O que é determinante para que um vinho seja premiado?

Calma. Vamos tentar dissipar essa névoa de dúvidas, mas antes um conselho: mais importante do que conhecer todas as premiações existentes é saber quais contam com grande reputação junto à comunidade de enófilos mundo afora.

Neste post, vou apresentar os dois selos mais populares, em termos globais. Esse é um bom ponto de partida para entender como funcionam algumas das denominações mais conhecidas e confiáveis por aí. Vamos falar das escalas (ou ratings) Wine Spectator e Robert Parker.

Vinhos premiados: como funciona a escala Wine Spectator.

Desde 1996, a revista Wine Spectator tem liderado a avaliação de vinhos em todo o mundo. Todos os anos, uma equipe de cerca de 15 profissionais analisa mais de 15 mil garrafas de vinho. São sete provadores seniores, cada um dedicado a estudar as especialidades e tipos de vinho de determinada região, mais oito provadores “avulsos”, que se dedicam à avaliação dos vinhos submetidos, por produtores e importadores de vinhos, para degustação em um dos quatro escritórios da revista ao redor do globo.

Cada edição da revista tem de 400 a 1000 avaliações e rating de vinhos. A revista também publica avaliações e classificações em seu site. O Wine Spectator já fez mais de 220.000 avaliações de vinhos ao longo das últimas duas décadas.

Na prática, a Wine Spectator usa uma escala de classificação de 100 pontos com as seguintes descrições:

95 a 100 pontos, Clássico: um excelente vinho. Estes são os vinhos verdadeiramente excelentes,

90 a 94 pontos, Destaque: um vinho de caráter e estilo superior.

85 a 89 pontos, Muito bom: um vinho com qualidades especiais.

80 a 84 pontos, Bom: um vinho sólido e bem elaborado.

75 a 79 pontos, Medíocre: um vinho razoável, que pode ter pequenas falhas.

50 a 74 pontos, Não recomendado.

Vinhos premiados: entendendo a escala Robert Parker.

A exemplo da Wine Spectator, o sistema de classificação de Robert Parker, um dos maiores especialistas em vinhos do mundo (também conhecido como “Wine Advocate”), emprega uma escala de qualidade de 50-100 pontos (Parker Points®). Reconhecidamente, Robert Parker assume um olhar difícil e muito crítico sobre os vinhos, pois prefere subestimar a qualidade do vinho do que subestimá-la. As avaliações numéricas são utilizadas apenas para aprimorar e complementar as notas de prova completas, que são os principais meios utilizados por Robet Parker para comunicar seus julgamentos. Conheça a escala também conhecida como RP:

96-100: um vinho extraordinário, de caráter profundo e complexo, que exibe todos os atributos esperados de um vinho clássico de sua variedade. Os vinhos deste calibre valem um esforço especial para encontrar, comprar e consumir.

90-95: um excelente vinho, de excepcional complexidade e caráter.

80-89: um pouco acima da média; um vinho que exibe vários graus de finesse e sabor.

70-79: um vinho médio, com pouca distinção. Em essência, um vinho direto e inócuo.

60-69: um vinho abaixo da média contendo deficiências visíveis, como excesso de acidez e/ou tanino ou ausência de sabor.

50-59: um vinho considerado inaceitável.

As diferenças entre os vinhos tintos e brancos vão muito além da escolha das uvas e da cor, podendo se estender a vários aspectos fascinantes como processos produtivos completamente distintos e até mesmo a utilização de diferentes partes da uva.

É óbvio que, fundamentalmente, os vinhos tintos são feitos com uvas escuras (Sangiovese, Pinot Noir, Cabernet Sauvignon, Nebbiolo etc.) e os vinhos brancos são feitos com uvas brancas (Chardonnay, Pinot Grigio etc.). O que é interessante, porém, é que quase todos os vinhos que encontramos por aí originalmente foram produzidos a partir de uma única espécie de uva chamada Vitis Vinifera. Especialistas acreditam que as primeiras uvas Vitis Vinifera eram escuras e que uma mutação natural criou as primeiras uvas brancas.

Ou seja: Pinot Noir, Pinot Gris e Pinot Blanc compartilham o mesmo DNA.

Vinho tinto e vinho branco: as diferenças na prática

Depois que as uvas são colhidas e levadas à adega, diferentes processos são usados ​​para fazer o vinho tinto e o vinho branco. Uma das diferenças mais importantes é que os vinhos tintos não desprezam as cascas e as sementes das uvas durante o processo de fermentação, ao contrário dos vinhos brancos. Na verdade, toda a cor do vinho tinto vem das cascas e sementes das uvas.

Com vinhos brancos, existe também um método de produção especial em que as uvas brancas são fermentadas com as peles e sementes das uvas. Os vinhos feitos com esta técnica são conhecidos como “vinhos de laranja” e, em sabor, são semelhantes aos vinhos tintos e têm tanino.

Para além da fermentação em si, é possível dizer que a maior diferença entre vinhos brancos e tintos reside na oxidação. Se os vinhos tintos são amados por seus sabores macios, ricos e aveludados, e os vinhos brancos são apreciados por sua acidez, aromas florais e notas de frutas puras, dá para dizer que tudo isso se deve ao método de vinificação empregado.

Normalmente, os vinhos tintos são armazenados em barris de carvalhos, que tendem a “respirar” mais, permitindo uma maior ação do oxigênio na mistura. Daí decorre a “troca” das notas florais e frutadas do vinho por sabores ricos em nozes e mais suavidade. Já no caso dos vinhos brancos, os produtores costumam usar tanques de aço inoxidável, para reduzir a exposição ao oxigênio, o que garante que os vinhos retenham os tons mais cítricos e frescos.

Na terça-feira, você combinou um encontro com os amigos para o sábado seguinte. “Vamos aproveitar esse friozinho para tomar vinho e colocar o papo em dia”. Só que o sábado chegou e está 33 graus. Na sombra. A noite regada a vinho está descartada, correto?

Nada disso.

Enquanto realmente há vinhos que caem melhor em dias frios (se tiver fondue, então, não deixe de ler este post), também existem vinhos versáteis o bastante para serem apreciados em dias que amanhecem com os termômetros marcando 12º e terminam com, pelo menos, o dobro disso. Isso não significa que eles sejam “vinhos de verão” ou algo assim, mas que suas notas e corpo se adaptam bem a diferentes temperaturas ambiente.

Quer ver só? Experimente um Barbera em um dia bem frio e você vai perceber que ele tem força e taninos suficientes para acompanhar uma pizza margherita (com bastante molho, por favor!), por exemplo. Já em ocasiões mais quentes, são outras características que aparecerão com mais vigor: os tons de frutas maduras e a nota de baunilha.

O mesmo processo tende a acontecer com outros vinhos de corpo e taninos moderados, como é o caso do Valpolicella, com seu paladar delicado e fragrância floral ou, no limite, até mesmo o Primitivo di Manduria, cujo sabor harmônico e único harmoniza muito bem com uma vasta gama de pratos, dos mais leves aos mais cremosos.

Para mim, a adega ideal conta sempre com vinhos versáteis como esses (e muitos outros) para que você nunca seja pego desprevenido com uma mudança repentina do menu ou mesmo do clima. Faça frio, faça sol, o importante é sempre estarmos preparados para uma noite de bons vinhos e ótimas conversas.

Afinal, não existe um mau momento para apreciarmos uma taça de vinho.

Um delicioso ceviche de peixe branco em uma mão e uma taça de Scavigna Rosato DOC na outra. Pronto: está aí uma harmonização fácil e infalível.

Por sua versatilidade e praticidade, os chamados “finger foods” vieram para ficar. Afinal, quem não gosta de poder experimentar uma infinidade de culinárias diferentes em pequenas porções sem ter que, necessariamente, elaborar demais os pratos?

Seja ao experimentar deliciosas tapas espanholas, mini hambúrgueres, canapés com salmão ou abobrinha, salada caprese no espeto ou qualquer outra combinação servida, você pode (deve!) harmonizar com um bom vinho, que realce os sabores das comidinhas.

O que levar em conta na hora de harmonizar vinhos e finger foods?

Como toda refeição extremamente versátil, é preciso ter em mente que a escolha do vinho ideal para acompanhar os finger foods deve considerar o principal componente servido. Por exemplo, se estamos falando de tapas que levem fatias de jamón (o tradicional presunto espanhol), vale a pena investir em um vinho um pouco mais encorpado, com taninos médios. Uma dica? Barbera D’Alba. Este é um ótimo vinho para degustar porções um tanto mais ricas em proteínas, sem que o sabor das comidinhas seja impactado pela adstringência do vinho.

Se as porções servidas forem mais heterogêneas, contando com queijos de teor variados, caldos, cremes, vegetais e carnes diversas, uma dica é realmente apostar no vinho mais versátil em que você puder colocar as mãos. Além de delicioso, o Valpolicella Classico tem exatamente esta característica, o que significa que se os fingers foods forem “apenas” a entrada para o prato principal, você pode continuar apreciando o Valpolicella ao longo de toda a refeição.

Para o caso de comidinhas mais leves, baseadas em saladas, legumes e peixes, a harmonização pode ser feita com um bom vinho branco, como é o caso de Pinot Grigio, um rosé (como o já citado Scavigna Rosato) ou até mesmo um espumante como o Terra Serena, que ainda combina muito bem com frutos do mar.

Está procurando um vinho branco leve e sofisticado? Conheça Grillo.

Oriundas da Sicília, as uvas do tipo Grillo produzem vinhos frescos e frutados (mas encorpados o bastante para oferecerem um potencial de envelhecimento moderado). Os vinhos Grillo mais leves têm notas cítricas e nuances de pêssego, enquanto versões mais aromáticas oferecem tons de maracujá, mirtilo e ervas que remetem à Sauvignon Blanc. A fermentação e o envelhecimento em barris criam vinhos mais complexos, mineralizados, carregados com sabores de maçã e diversas frutas cítricas. Além disso, as vinhas mais próximas do mar produzem vinhos com notas salinas pronunciadas.

As uvas Grillo já estiveram perto de desaparecer. Nascidas de um cruzamento entre as uvas Catarratto e Moscato di Alessandria (Zibibbo), Grillo dominava a produção da região de Marsala (bem na ponta - ou no “fim” - da Sicília) até o início da década de 1960, quando as plantações diminuíram substancialmente. Os produtores optaram por variedades mais vigorosas na ocasião. Nas duas décadas seguintes, a produção de Grillo esteve quase abandonada, relegada a alguns poucos produtores locais. Foi no ano de 1990 que o lendário produtor de Marsala, Marco de Bartoli, decidiu utilizar Grillo, por conta própria, para produzir um vinho branco seco.

O resto é história. É consenso atualmente: Grillo é, definitivamente, a melhor uva branca para as planícies quentes em torno de Marsala, afinal ela vai muito bem no calor e se beneficia da brisa marítima como nenhum outro tipo de uva. Em 2015, por exemplo, as plantações de Grillo atingiram aproximadamente 16 mil hectares - um aumento de 180% em relação a 2005. Antonio Rallo, presidente do consórcio DOC Sicilia e co-proprietário da adega Donnafugata, denomina tal cenário como “O Ressurgimento de Grillo”. Obviamente, isso não é por acaso: além de ser fresco e fácil de beber, as notas salgadas conferem a Grillo uma personalidade ímpar. Algo que todos buscamos ao degustar um bom vinho, não é mesmo?